segunda-feira, 20 de maio de 2013
0 Novo programa de desenvolvimento global deve ter os direitos humanos como ponto central
Os líderes mundiais devem rejeitar um modelo de desenvolvimento
baseado na ajuda e, em vez disso, tentar uma abordagem que coloca os
direitos humanos e a justiça em seu cerne, pediram 18 organizações não
governamentais, antes de emitir um relatório do Grupo de Alto Nível da
ONU sobre o futuro do desenvolvimento sustentável.
Essa convocação da Anistia Internacional, do Centro de Direitos
Econômicos e Sociais (CESR), da Associação para os Direitos das Mulheres
em Desenvolvimento (AWID), e de outras 15 organizações em todo o mundo,
é feita enquanto um grupo de alto nível de especialistas analisa a
minuta final do relatório que apresentará ao Secretário-Geral das Nações
Unidas, no final de maio, lançando as bases para atuação, depois que
expirarem os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) em 2015.
Qualquer novo modelo deve garantir que as pessoas estejam em
condições de pedir prestação de contas aos seus governos e outras
entidades pelo seu desempenho quando os direitos humanos são ignorados
ou abusados, disseram as organizações.
“O sistema pós-2015 deve reconhecer que as pessoas que enfrentam
pobreza e privação têm direitos, e que não são objetos de
desenvolvimento. E precisa abordar os obstáculos estruturais que fazem
com que as pessoas continuem pobres, no plano nacional e global ",
disse Ignacio Saiz, Diretor Executivo do Centro de Direitos Econômicos e
Sociais.
Com base nos resultados do comitê de alto nível, o Secretário-Geral
da ONU fará recomendações ao Evento Especial da Assembleia Geral sobre
os ODM, que vai modelar os parâmetros básicos do plano pós-2015 em
setembro de 2013. Este plano deve, no mínimo, respeitar e refletir as
normas legais, padrões e compromissos políticos pré-existentes de
direitos humanos, disseram as organizações. E pediram aos governos que
garantam os níveis mínimos de proteção social.
Enquanto o programa de desenvolvimento vai ser implantado
principalmente pelos Estados, serão necessários mecanismos eficazes de
responsabilização dirigidos por cidadãos para garantir que outros,
inclusive instituições internacionais e do setor privado, respeitem os
padrões de direitos humanos. No mínimo, isso deve garantir que o setor
privado não cause prejuízos ao programar os projetos de desenvolvimento.
Uma melhor colaboração entre instituições eficazes nos planos local e internacional deveria formar a base de uma parceria global para combater as causas estruturais da pobreza, da desigualdade e da devastação ecológica.
Uma melhor colaboração entre instituições eficazes nos planos local e internacional deveria formar a base de uma parceria global para combater as causas estruturais da pobreza, da desigualdade e da devastação ecológica.
Os recentes levantes populares ao redor do mundo têm mostrado que é
essencial que os governos reconheçam que as duas principais categorias
de direitos humanos - direitos civis e políticos, bem como os direitos
econômicos, sociais e culturais - são indivisíveis e interdependentes,
disseram as organizações.
“O quadro de desenvolvimento pós-2015 precisa estar radicado na
percepção da interdependência da privação socioeconômica e dos fracassos
democráticos", disse Savio Carvalho, Diretor do Programa Exija
Dignidade da Anistia Internacional. “Direitos civis e políticos são
inseparáveis dos direitos econômicos e sociais, portanto o novo programa
precisa ser projetado de forma a promover a capacitação nestas duas
áreas.”
De cuidados de saúde a direitos de propriedade e de terra, à
violência com base no gênero, as mulheres e meninas se defrontam com
dificuldades específicas que precisam ser abordadas no programa de
desenvolvimento pós-2015. “Este programa de desenvolvimento deve
garantir efetivamente toda a gama dos direitos das mulheres, abordando
as questões econômicas estruturais e direitos de propriedade, garantindo
a plena participação das mulheres na tomada de decisões em todos os
níveis, e reconhecer a prestação de cuidados gratuitos ", disse Lydia
Alpízar, Diretora Executiva da Associação para os Direitos das Mulheres
em Desenvolvimento.
Os ODM têm sido fracos na abordagem de outras formas de desigualdade.
Desta vez, as normas de direitos humanos existentes para eliminar a
discriminação precisam estar refletidas em todos os novos objetivos e
metas. Os grupos que estão atualmente prejudicados ou excluídos, por
motivos como raça, gênero, deficiência, condição de migrante ou
indígena, orientação sexual ou identidade de gênero, precisam estar
capacitados para atuar como agentes efetivos de seu próprio
desenvolvimento.