domingo, 7 de setembro de 2014
Poder Judiciário não é capaz de salvar ninguém das próprias frustrações...
Narra a lenda que o sujeito andando, sem eira nem beira, encontra uma
lâmpada mágica. Ao esfregá-la, um gênio aparece e lhe concede três
pedidos. Com eles pode satisfazer em três momentos distintos quaisquer
de seus desejos. As variações a partir daqui são muitas. O que importa
marcar é que se pode pedir qualquer coisa. Sem limites. O gênio, por seu
turno, não coloca barreira qualitativa aos três pedidos, somente
quantitativa: três!Freud estabeleceu que a análise do coletivo
guarda pertinência com o que acontece na singularidade e, talvez, o
“tsunami reivindicatório” com o qual o Poder Judiciário é arrostado
atualmente possa ser um sintoma do que se passa. Sabe-se, todavia, que o
sintoma, neste contexto, procura incluir na trama o destinatário,
supondo que ele, ao se colocar no lugar do destinatário, possa
satisfazer a pretensão, na totalidade. O gênio concede, sabiamente, três
pedidos, quem sabe, para demostrar que há limites, mesmo na satisfação
do desejo, para que fique um resto. Enfim, há uma referência. Os mais
apressados diriam que o gênio é reacionário e que se pode, deve,
satisfazer, sem limites, tudo. Quem sabe surgiria uma passeata em nome
da multiplicação dos pedidos; o milagre da multiplicação. A legitimidade
deste movimento decorreria na ocupação de um lugar de vítima social das
circunstâncias, sempre insatisfatórias do encontro com o Real. Por isso
o argumento de Charles Melman e de Jean-Pierre Lebrun é procedente, a
saber, de que gozar a qualquer preço, sem dívidas, nem responsabilidade,
passa a ser o padrão de um sujeito que histericamente quer tudo e não
suporta o preço de suas escolhas, nem de aceitar sentir dor, condição
humana. Aliás, se quer tudo, de fato, não quer nada. Neste buraco da
demanda, quem sabe, possa residir uma satisfação. Não é o caso, contudo,
de seguir esta trilha.