quinta-feira, 17 de setembro de 2015
Sérvia/Hungria: Refugiados presos na fronteira em meio a uma falha humanitária
Mais de 1000 pessoas,
incluindo muitas famílias que fugiram do conflito na Síria, Afeganistão e
Iraque, continuam presas em condições deteriorantes em uma estrada sérvia após
as autoridades da Hungria fecharem a passagem da fronteira, relata a Anistia
Internacional, que está baseada em Horgos, no lado sérvio.
Organizações humanitárias,
incluindo a agência de refugiados das Nações Unidas, encontram-se totalmente
ausentes e a única resposta vinda das autoridades sérvias foi enviar a polícia
para a área de fronteira. Centenas de refugiados estão dormindo em péssimas
condições na estrada, tendo recebido apenas ajuda de voluntários, sendo o
acesso à comida, toaletes e água potável restrito.
Tirana Hassan, Diretora de
Resposta à Crises da Anistia Internacional disse, em Horgos: “Os refugiados com
os quais falamos descreveram a indignação e a incerteza que eles sentem, presos
em um limbo sem qualquer tipo de informação. Eles estão, de fato, presos em uma
terra sem lei na fronteira da Sérvia e na cerca da fronteira da Hungria”.
“Mais refugiados vem chegando
hoje e a situação se deteriora rapidamente. As autoridades sérvias e a União
Europeia sabem que isso iria acontecer e falharam em responder de maneira
adequada, o que significa que centenas das pessoas mais vulneráveis estão agora
presas entre o arame farpado e o não saber o que vem a seguir”.
A delegação da Anistia
Internacional conversou com uma mulher africana que tinha dois filhos,
incluindo um com câncer, de 8 anos de idade. Desde que a fronteira foi selada,
eles têm dormido mal, além de carregar pouquíssimas coisas – sua filha neném
não tem sequer sapatos. O pertence mais valioso é o relatório médico do seu
filho.
Como a área perto da fronteira
é um campo aberto próximo a uma estrada, não há comida ou abrigo, além de
poucos banheiros e água potável. Os refugiados estão fazendo tudo que podem
para manter a situação sob controle, mas as condições são bastante
desfavoráveis – um sinal improvisado em árabe e em inglês pede para as pessoas
não “poluírem o entorno do campo com seus excrementos”.
Os refugiados que possuem
tendas a usam, mas diversos dormem ao relento da estrada ou no acostamento. A
Anistia Internacional conversou com uma família de 10 pessoas da Síria que
tinha apenas uma tenta, aonde apenas as crianças dormiam. Outras famílias não
tinham nada, estando completamente expostas, com alguns entes procurando abrigo
nas florestas próximas.
A resposta humanitária veio
sem um esforço de coordenação do governo sérvio até agora. Voluntários
distribuem leite e itens básicos, mas é uma gota em um oceano em termos de
necessidades humanitárias. As pessoas não tem acesso às necessidades básicas e
não tem como prover alimento a suas famílias, uma afronta a sua dignidade.
Os pesquisadores da Anistia
Internacional viram um grande número de pessoas extremamente vulneráveis,
incluindo muitos com deficiência, que não tinham nenhum tipo de assistência
especializada. Uma garota de 16 anos de Kobane, Síria, em uma cadeira de rodas,
contou a organização que elas foram incapazes de se hospedar no hotel local
pela falta de documentos, sendo obrigadas a passar a noite em um acampamento
improvisado, aonde uma família as abrigou em uma tenda já cheia.
Aqueles que estão presos na
fronteira da Sérvia com a Hungria não têm informações sobre o que virá a
seguir.
As pessoas que conversaram com
a Anistia Internacional diziam constantemente que elas não estavam interessadas
em assistência no longo-prazo, elas queriam trabalhar e viver uma vida em
condições dignas, sendo membros contribuintes da sociedade. Muitos falaram que
eles não queriam estar naquela situação – eles estavam.
Tirana Hassan disse que “O que
nós vemos ao longo da fronteira são centenas de homens, mulheres e crianças que
sofrem as terríveis consequências da ausência de humanidade das autoridades
húngaras, que fecharam e militarizaram a fronteira ontem”.
“As autoridades sérvias tinham
total conhecimento de que isso iria acontecer e falharam miseravelmente em
responder. Centenas de pessoas que fogem da guerra estão procurando proteção
nos países da UE. Ao invés de ajuda-las, os governos da Europa os estão
isolando e ao que parece, sem achar soluções de longo-prazo”.